Pelo direito de viver e sonhar: IV Acampamento Estadual da Juventude da Via Campesina de Rondônia.

O IV Acampamento Estadual da Juventude da Via Campesina de Rondônia teve início no dia 5 de setembro no Assentamento 14 de Agosto, em Ariquemes. Este evento é fruto da necessidade de organização dos jovens do campo rondoniense, com o objetivo de contrapor o sistema capitalista que promove uma sociedade adoecida e sem sonhos. O acampamento, com o lema “Juventude da Amazônia em Luta por Terra e Soberania Alimentar”, se estende até o próximo domingo (8), e é um espaço de debates teóricos, oficinas, vivências, práticas, estudos e reflexões.

Na noite de abertura (5), jovens de diversos municípios de Rondônia marcaram presença, representando organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Instituto Pe. Ezequiel Ramin (IPER), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Levante Popular da Juventude e Juventude Fogo no Pavio. A mística de abertura proporcionou um momento de apresentação das diversas organizações que compõem a Via Campesina em Rondônia, além de falas políticas que destacaram a importância de cada uma delas.

Neste primeiro dia (6), houve a apresentação da Via Campesina, com Leila Denise, coordenação do MPA. Ela destacou que a Via Campesina, que completa 32 anos, e é resultado de processos históricos de articulação dos povos que lutam por direitos. Entre as principais bandeiras da Via estão a soberania popular, a defesa da semente e da agroecologia, a solidariedade internacional, a luta por terra, água e território, a luta por justiça climática, e a solidariedade com trabalhadores em processo de migração. “Pensamos em uma Via, um caminho de articulação a nível internacional. A Via surge em 1992, e, a partir daí, as organizações foram se juntando a essa causa,” afirmou Leila.

Desafios da Juventude Camponesa em Rondônia

 

Ainda pela manhã, os jovens discutiram os desafios da juventude camponesa em Rondônia e o papel do coletivo de juventude, sob colaboração de Fred Santana (MST) e Larissa (CPT). Eles trouxeram elementos para pensar sobre a educação que atendam às necessidades do campo, questionando se a educação atual fortalece o campesinato e como a juventude pode ser melhor atendida. Também foram abordadas questões sobre geração de trabalho e renda, esporte, cultura e lazer que valorizem a perspectiva dos camponeses e camponesas que vivem no campo.

Após, os cochichos, Larissa enfatizou que “precisamos nos apropriar do que já temos, fortalecer nossos cursos e coletivos. Não queremos escola militar, não queremos mediação tecnológica; queremos uma escola popular e comunitária onde sejamos o centro do debate,” sintetizando as discussões. Fred, por sua vez, destacou a importância de continuar os diálogos: “nossa tarefa é ser criativos na construção de nossas perspectivas e enfrentar o que está posto para nós. Temos que seguir o debate e levantar as questões da juventude em nossos territórios.”

Análise da Conjuntura Política

Na parte da tarde, Renata Menezes, do coletivo de juventude do MST-SP, contribuiu com a análise da conjuntura política, destacando a crise estrutural do capitalismo, a retirada de direitos e as políticas públicas que não atendem às necessidades da juventude. “Estamos diminuindo o número de pessoas que passam fome, mas qual é a qualidade da comida que chega à mesa do povo? São alimentos repletos de agrotóxicos e processados, que nos agridem e nos matam,” alertou Renata. Ela também discutiu como as mídias sociais têm moldado pensamentos conservadores entre os jovens, promovendo ideologias neofascistas que atacam LGBTs, negros, mulheres e outros grupos marginalizados. “Como está organizada a nossa juventude em Rondônia? Quem são nossos inimigos, e quais ações podemos tomar para enfrentar o capital?” questionou, provocando uma reflexão coletiva.

Os jovens foram divididos em grupos para refletir sobre esses temas e socializaram suas análises na plenária. Renata ressaltou a profundidade das reflexões: “Vocês apontaram as disputas com o modelo hegemônico do agronegócio, identificaram os inimigos e trouxeram o debate sobre o marco temporal. Organizar a juventude deve passar pela educação, lazer e arte, de forma leve e acolhedora, incentivando a permanência nos territórios. A luta pela educação é urgente, e as políticas públicas precisam ser espaços de debate e disputa da juventude”, enfatizou.

Ela concluiu destacando a necessidade de ações ousadas para enfrentar os desafios: “precisamos estar dispostos a paralisar quando necessário, fazer greves e ser criativos nas nossas propostas, sempre atentos ao que a juventude tem a dizer.” Esses debates estão sendo incorporados em todos os momentos do acampamento, visando fortalecer o movimento e ampliar as ações de luta.

O IV Acampamento Estadual da Juventude é um importante espaço de organização, debate e luta da juventude do campo, e nesse sentido, segue com as reflexões e debates nos próximos dias.