Uma breve história do IPER

Percorrer a história do IPER, procurando conhecer mais de perto sua trajetória, contradições e processos constitutivos, é também ter a oportunidade de uma visita pela própria História do Estado de Rondônia na Amazônia.

O Projeto Padre Ezequiel

Nos anos 70 e 80, milhares de migrantes do centro sul e de outra parte do país, movidos pela propaganda governamental, vieram para Rondônia em busca de uma vida melhor. Com essas famílias, advieram inúmeros problemas sociais como: pobreza extrema, condições precárias de higiene, preços dos produtos muitos baixos, entre outras questões. Assim como, foram afetados por doenças tropicais, por exemplo, malárias.

Os problemas sociais, políticos, econômicos e a falta de políticas públicas que assistissem os imigrantes se apresentavam de forma gritante no rosto dos analfabetos, crianças de rua, agricultores e agricultoras desamparados. O projeto foi criado para responder as demandas deste público devido a precariedade da ação do Estado e respondendo ao chamamento do Evangelho.

Em 1987, uma equipe orientada por meio o então Bispo da Diocese de Ji-Paraná, Dom Antônio Possamai, Acesse a história de Dom Antônio Possamai aqui elaborou o Projeto que recebeu o nome do Pe. Ezequiel Ramin, em sua homenagem, portanto, Projeto Pe Ezequiel (PPE). Acesse a história do Pe Ezequiel aqui.   Este foi um projeto de ajuda criado com os seguintes setores: saúde, alfabetização, infra-estrutura para os agricultores e menores de rua.

Primeiramente, foi criada a Pastoral da Saúde que utilizou o conhecimento popular sobre plantas medicinais e homeopatia para curar, inicialmente, as pessoas, para depois se estender aos animais, solo, plantas e água. “O povo acreditou por haver a partilha do conhecimento que ele próprio detinha”, enfatiza Possamai.

Os campos de atuação do PPE eram de combate ao analfabetismo entre jovens e adultos, promoção dos direitos humanos da Criança e do Adolescente, a promoção da saúde em sua totalidade e a agricultura alternativa. Com o passar do tempo, o Estado atende à demanda da alfabetização e o projeto deixa de atuar neste campo e passa a investir na Formação Continuada em Políticas Públicas.

Depois de 28 anos de caminhada e de atuação direta na Diocese de  Ji-Paraná, o Projeto  Pe.  Ezequiel Ramin constitui personalidade jurídica própria sem fins lucrativos e passa a ser o Instituto Pe. Ezequiel Ramin –IPER, que nasce em 2016.

 

IPER, resistência e luta na Amazônia.

O Instituto Padre Ezequiel Ramin, ao longo das mais de três décadas de existência, tem sido um instrumento de luta e uma referência alternativa, em Rondônia e na Amazônia. No início, com o então PPE, ações pontuais e específicas foram necessárias para dar resposta aos “gritos” vindo das bases, tanto no campo quanto na cidade, por força da intensa onda migratória, oriunda de todas as regiões do país. As ações no campo da Saúde Popular Alternativa, como resgate da sabedoria popular, valendo-se das plantas e chás caseiros, deu abertura e base para um trabalho relevante em homeopatia com agentes populares comunitários.

Da mesma forma, houve uma intervenção de grande importância para as comunidades empobrecidas. Trata-se da Área de Alfabetização de Jovens e Adultos, com a pedagogia de Paulo Freire, de educação popular e construção do saber e de consciência cidadã. A partir desse trabalho, centenas de pessoas adquiriram o conhecimento da escrita e da leitura. Houve até quem acessasse outros espaços de aprendizagem, como os níveis fundamental, médio e superior, conquistando, com isso, outros espaços de trabalho.

A Área Criança e Adolescente, teve um papel importantíssimo, pois o surgimento do PPE coincidiu com a mobilização pelo advento do ECA. E quando aprovado, em 1990, o PPE, por meio dessa Área, desenvolveu ações na maioria dos municípios na abrangência geográfica da Diocese de Ji-Paraná, contribuindo com a implantação e implementação dos Conselhos de Direitos e Tutelares e na formação dos respectivos conselheiros e conselheiras.

Outra resposta grandiosa foi dada através da Área da Agroecologia, anteriormente chamada de Setor Agrícola ou Agricultura Alternativa. O desafio era criar e fortalecer as organizações comunitárias, construir a consciência de solidariedade com experiências de associações, roças e hortas comunitárias. O grito da época era expresso na atividade camponesa da mulher e da criança, no dia a dia com o esforço físico do pilão. Então, o PPE levou a mais de centenas de comunidades e grupos, as pequenas máquinas de beneficiar o arroz e o café, aliviando o sofrimento das famílias. Os grupos de famílias beneficiadas se organizavam e devolviam o financiamento, para que pudesse beneficiar outros grupos. Assim, foi criado, no PPE, o Fundo Rotativo de Economia Solidária.

Com essas iniciativas o PPE foi criando sua identidade, pois também essa era a opção pastoral da Diocese de Ji-Paraná, por meio do então pastor Dom Antônio Possamai, afinal sua preocupação era ser presença junto ao povo marginalizado, empobrecido pelas políticas públicas. Tais iniciativas tornaram-se referência para além da Diocese, indo para as demais Dioceses de Rondônia, bem como também para outras Dioceses e organizações da região Norte da Amazônia.

Percorrer a história do IPER, procurando conhecer mais de perto sua trajetória, contradições e processos constitutivos, é também ter a oportunidade de uma visita pela própria História do Estado de Rondônia. Indiscutivelmente, o IPER, é uma das principais instituições em defesa da Amazônia, destacando-se pela excelência das formações política para lideranças.

O Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER) vive, hoje, um importante momento histórico de reestruturação e de renovação. Seu objetivo é proporcionar um espaço de articulação e formação, visando o protagonismo de homens, mulheres e jovens, por meio de ações e medidas que promovam a cidadania, o desenvolvimento sustentável, a defesa da vida, justiça e da Amazônia.