A troca de sementes, realizada no segundo dia (28) da 8ª Festa Camponesa, revelou a importância do armazenamento das sementes para a garantia da Segurança e Soberania Alimentar. Camponeses, há meses, realizam um trabalho cuidadoso de catalogação, produção de mudas e mapeamento de sementes. Algumas delas raras ou praticamente em extinção. Foram identificadas, segundo os organizadores, cerca de 300 variedades, vindas de diversas regiões do país, como São Paulo, Amazonas, Mato Grosso e Bahia, sementes estas cultivadas por camponeses, indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
Segundo Josiane Santos, dirigente do setor de produção do MST, “Mais de 500 pessoas participam deste processo, que envolve não apenas a coleta, mas também o cuidado, o cultivo e o transporte das sementes até a festa. Entre as variedades, destaca-se um feijão carioca cultivado e melhorado há mais de 40 anos por uma família”.
A organização destaca a importância das sementes para a soberania alimentar e a preservação da biodiversidade, alertando para o risco de monopólio das sementes por grandes empresas, o que ameaça a diversidade da alimentação e a saúde das pessoas. Abordando ainda que o objetivo é valorizar a troca e o cultivo das sementes como forma de fortalecer a agricultura camponesa e proteger a cultura alimentar local.
Isabel Ramalho, dirigente do MPA, pontua que “em Rondônia, as famílias camponesas cultivam, guardam e trocam sementes de forma tradicional, sem grandes estruturas ou bancos de sementes coletivos — cada família realiza esse trabalho de forma própria, em pequena escala, garantindo a preservação da diversidade de variedades”. Ademais, a dirigente ressalta que o agronegócio, com o avanço de pacotes tecnológicos, sementes híbridas e transgênicas, se apresenta como um risco constante à diversidade e à independência das famílias camponesas.
Movimentos sociais que integram a Via Campesina desenvolvem uma importante campanha denominada de “Sementes: Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade” cujo objetivo consiste em conscientizar sobre a importância das sementes e fortalecer o controle camponês, incentivando a multiplicação de variedades e a transição agroecológica.
Na Festa Camponesa, o tema da semente é central e simbólico: a cada edição, cresce o número de variedades trazidas pelas famílias, demonstrando a força do sentimento de pertencimento e de resistência cultural camponesa. Um exemplo citado é o de um casal do Tarilândia, Distrito de Jaru, que recebeu sementes de arroz crioulo na festa anterior, plantou em terras arrendadas, reproduziu e retornou ao evento para compartilhar a nova safra.
Neverita e João, agricultores que participaram de todas as edições da Festa Camponesa, contam que receberam sementes de arroz crioulo na edição passada, há aproximadamente dois anos. Desde então, passaram a plantar a semente do arroz, sem uso de agrotóxicos, em terras arrendadas — após terem vendido o antigo sítio. A produção é destinada ao consumo familiar e à preservação de sementes, colhendo em média quatro sacas por safra. Eles relatam a importância de guardar e trocar sementes, prática que poucos vizinhos na região também seguem.
Por Érica Anne dos Santos Oliveira, colaboradora do Instituto Pe. Ezequiel Ramin (IPER). Estamos à disposição através comunicacaoiper@gmail.com