Sementes de Esperança: Romaria celebra legado de Padre Ezequiel com partilha agroecológica

Na 10ª Romaria em memória dos 40 anos do martírio do Padre Ezequiel Ramin, um momento de profunda simbologia marcou a celebração: a bênção e distribuição de sementes crioulas, vindas diretamente das mãos de pequenos agricultores e povos indígenas das etnias Arara e Gavião, de Ji-Paraná.

 

Foram partilhadas diversas sementes crioulas e nativas, como de milho asteca, milho indígena, milho roxo, cravo-de-defunto, feijão-de-porco, feijão mulatinha, feijão guandu, arroz agulhinha, mucuna preta, graviola, baje da acácia amarela, bacaba, fava branca, fava rachada, bucha vegetal, cará insulina, cará muela, amendoim, castanha, ervilha, abóbora e sementes de cacau, de açaí, que somaram mais de 200 quilos no total, e ainda mudas de frutas nativas e plantas medicinais. Cada uma delas carrega o potencial de cultivo, a força ancestral da terra, da cultura e da resistência camponesa.

A atividade é promovida tradicionalmente pelo Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER), que organiza a participação de famílias agricultoras camponesas e urbanas em todas as edições da Romaria. O objetivo é incentivar a troca de sementes e mudas, fortalecer práticas agroecológicas e reafirmar o compromisso com a vida no campo, a diversidade e a soberania alimentar. A feira aconteceu no Bosque da Capela Ramin, em Rondolândia, próximo ao local onde o missionário foi assassinado, reunindo saberes, sabores, cultura e cidadania.

Um dos momentos mais tocantes da Romaria foi a bênção das sementes crioulas, conduzida pelo bispo Dom Norberto. Em sua fala, ele comparou as sementes ao maná do deserto, alertando para o risco do acúmulo e enaltecendo a partilha: “Quem acumulou, estragou tudo. As sementes não são para acumular, mas para plantar e repartir. São sinal da criação de Deus, com a mesma força com que Ele nos criou.”

Dom Norberto também lembrou que Padre Ezequiel, como uma semente que caiu na terra, morreu, mas segue alimentando a esperança do povo. “As sementes são vida, são sinal de Deus e do testemunho de Ezequiel, que caiu como semente e continua a germinar em nós.”

A cerimônia emocionou os presentes, que estenderam as mãos sobre os frutos e sementes, pedindo bênçãos para um futuro de justiça, vida e partilha. “Deus quer a vida, o alimento e a saúde para todos”, concluiu o bispo. Destaca-se, que a maioria dos agricultores que doaram as sementes trabalha sem veneno, com agroecologia e sistemas agroflorestais, garantindo diversidade e saúde para o povo e para a terra.