Ouvimos cotidianamente que nós, jovens, somos o futuro do Brasil. No entanto, no Brasil atual, não há perspectiva de futuro para a juventude. Vivemos em um cenário de profunda retirada de direitos: desmonte da educação, aumento do desemprego e da fome, forte criminalização do uso dos espaços de lazer e cultura na cidade e tantos outros fatores que impedem o desenvolvimento pleno e criativo dos jovens brasileiros.
Ao mesmo tempo, é inegável o papel que a juventude tem cumprido na organização da revolta do povo frente à violência e aos ataques à democracia brasileira. Não à toa, foi a juventude que protagonizou a primeira mobilização popular contra o governo Bolsonaro, ainda em 2019, contra os cortes na educação. Também, durante a pandemia, construiu diversas ações de solidariedade, reivindicando a vacinação em massa e o auxílio emergencial para todos e todas. No ano de 2021, a juventude voltou às ruas para dizer que o governo é mais letal que o vírus.
Foi também a juventude que, cansada do extermínio de crianças e jovens negros, foi às ruas gritar “justiça” por Moïse Mugenyi Kabagambe, assim como em memória de Miguel, João Pedro, Agatha Félix e tantas outras e outros assassinados pelo racismo violento que estrutura o nosso país. Não é possível respirar com tranquilidade sabendo que, a cada 23 minutos, um jovem negro está sendo assassinado no Brasil, o mesmo Brasil que está sob o governo de um presidente racista e genocida que naturaliza a barbárie.
De acordo com o Atlas da Violência, é um fato global que homens adolescentes e jovens entre 15 e 29 anos são os que mais apresentam risco de serem vítimas de homicídios: entre 2009 e 2019, foram 333.330 jovens assassinados no Brasil. Esses dados assustam ainda mais quando observamos a disparidade regional nas taxas de mortalidade e nos níveis de violência juvenil, que estão relacionadas, sobretudo, a conflitos frutos da ação do crime organizado e das mortes decorrentes do uso de armas de fogo. Estas, por sua vez, jogam o Brasil no patamar de terceira maior população carcerária no mundo.
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A morte e o cárcere de jovens negros
Sob essas condições, os jovens negros são os que mais morrem e mais são encarcerados. Cerca de 64% da população prisional é composta por pessoas negras, ao tempo em que o percentual de jovens é de 55%. Esse cenário é reflexo de uma história carregada de exploração, que naturaliza a mortalidade brutal do nosso povo, a violência no cotidiano das comunidades e a violação do direito de ir e vir na cidade, entre tantos outros direitos que não são garantidos e conformam esse cenário.
Ser jovem, no Brasil, é ter poucas condições de sobrevivência e de futuro. São vidas, sonhos e esperanças interrompidos pela brutalidade de um sistema que mata dezenas de jovens por dia, diminuindo sua expectativa de vida para os 30 anos. São esses mesmos jovens que precisam largar a escola e se aventurar nos trabalhos precários, com baixa remuneração, alta carga horária, sem nenhuma seguridade trabalhista, que não tem acesso a espaços de lazer e são proibidos de ocupar as praças com suas batalhas de hip hop.
Efeitos da pandemia
Ao longo da pandemia que atravessamos, as condições de vida para a juventude têm piorado ainda mais. Vivemos hoje uma realidade de dificuldades com o ensino remoto, que fez milhares de jovens evadirem das escolas e universidades; além do aumento de casos de adoecimento físico e mental. Também, a ausência de um auxílio emergencial digno jogou diversos jovens na faixa do desemprego ou subempregos, como a uberização.
Quando se trata das jovens mulheres, soma-se a isso as relações domésticas e a violência de gênero. São as jovens, negras e periféricas as maiores vítimas de violência sexual. São mães, irmãs e esposas que se submetem a trabalhos precarizados, chefiam lares, respondem às crianças quando não há o que comer e convivem com a dor do luto quando os seus são exterminados no dia a dia.
Sobre o amanhã
Para que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome, é preciso transformar radicalmente a cultura que extermina a juventude. É preciso que se multipliquem — na realidade e nos noticiários — casos como a conquista da medalha de prata nas olimpíadas por parte da skatista Rayssa Leal, de 13 anos; ou da estudante Raquel Soares, que foi premiada por criar uma estratégia alternativa para combater a leishmaniose.
Queremos ser televisionados não por nossas dores, mas por resultados de investimentos em educação, cultura, esporte e lazer, por resultados que se expressem na vida da juventude e na construção de um projeto de país. Combater a violência no Brasil é lutar por direitos e, no momento atual, pela reconstrução da Democracia. E essa luta precisa ser antirracista e antipatriarcal, pautada na organização coletiva, que aponte um projeto de vida digna para o povo brasileiro.
No Brasil de Bolsonaro, não há futuro para a juventude. Por isso, nossa tarefa central é resgatar o Brasil para o povo brasileiro. Cabe à juventude organizar sua indignação e manter acesos o pavio da esperança e da rebeldia. O ano de 2022 será decisivo e devemos estar nas ruas construindo um grande movimento de massas para eleger Lula, derrotar o Bolsonarismo e construir um projeto popular de país.
Por fim, como próxima tarefa para a construção desse Brasil que queremos, convocamos a juventude e todo o povo brasileiro a estarem nas ruas no dia 8 de março. Vem chegando o Dia internacional da mulher, dia histórico de luta, e nós o construiremos com muita animação e criatividade. Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais!
*Daiane Araujo integra a coordenação nacional do Levante Popular da Juventude, é diretora de Mulheres da União Nacional dos Estudantes (UNE) e estudante de Arquitetura e Urbanismo.
** Carlos Alberto Machado (Carlinhos) integra a coordenação nacional do Levante Popular da Juventude e é estudante de Direito na UniRitter.
*** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Durão Coelho