Centenas de fiéis, principalmente, da Diocese de Ji-Paraná, vindos das Comunidade Eclesiais de Bases (CEBs) se reuniram no município de Rondolândia – MT para participar da 8ª Romaria, no dia 23 de julho de 2023, em memória ao Servo de Deus Pe. Ezequiel Ramin, nos 38º anos do seu martírio. Com o tema “Pe. Ezequiel Ramin: Semente Viva na Amazônia” e o lema “O Sonho de uma Sociedade Solidária e Fraterna”, a romaria destacou a vida, o legado e luta do padre. Além de refletir sobre a vocação e o profetismo, tendo Ezequiel como exemplo, incentivo e fortalecimento da Campanha da Fraternidade deste ano; apresentação dos trabalhos realizado pelos organismos da Diocese que promovem a permanência na Terra, o cultivo de Sementes Crioulas, à Agroecologia e a defesa da Amazônia.
A caminhada de, aproximadamente, 3km percorrida pelos romeiros e romeiras foi dividida em quatro paradas, cada uma delas representando um aspecto importante do compromisso do padre com a Amazônia e os povos do campo, das águas e das florestas. A romaria vai muito além de uma simples caminhada, são momentos carregados de simbolismo e espiritualidade, em que as pessoas demonstram agradecimento pelas graças recebidas, cumpre as promessas e faz pedidos. Após a caminhada, os participantes partilharam o almoço, fortalecendo os laços de solidariedade e confraternização. Em seguida, participaram da santa missa celebrada pelo Dom Norberto Foerster. Por fim, os romeiros realizaram o ato das trocas de sementes, reforçando o compromisso com a terra, a natureza e a sustentabilidade, mantendo viva a esperança de construir uma sociedade mais justa e fraterna.
A caminhada dos romeiros e romeiras
Na primeira parada, os fiéis falaram sobre o início da jornada vocacional do Pe. Ezequiel Ramin e o seu compromisso como profeta defensor dos menos favorecidos. Na oportunidade, Padre Assis, representante do grupo vocacional da Diocese de Ji-Paraná, convoca os jovens para assumir a tarefa de anunciar o evangelho como padres, bem como, fala sobre o papel dos religiosos e religiosas para este anúncio e missão. Momentos de oração e reflexão marcaram esse trecho da caminhada, fortalecendo os laços espirituais entre os participantes.
Na segunda parada, Lucimar Teixeira e os Leigos da Diocese de Ji Paraná falam sobre o tema da campanha da fraternidade deste ano, Fraternidade e Fome, dai-lhes vós mesmo de comer. Ela destacou que pela terceira vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil –CNBB, traz como tema à Fome, o que demonstrando que este é ainda um enorme desafio para a sociedade brasileira. De acordo com os últimos dados, o Brasil tem 21 milhões de pessoas que não tem o que comer todos os dias e 70,3 milhões em insegurança alimentar. Deste modo, este momento de reflexão convoca aos líderes religiosos e membros da comunidade ao compromisso com a solidariedade e a busca por uma sociedade mais justa e fraterna.
A terceira parada refletiu sobre a opção do Pe. Ezequiel Ramin, bem como, as ações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Instituto de Padre Ezequiel Ramin (IPER). Nesse momento da caminhada, foram exaltados os esforços para promover a permanência dos povos dos campos, das águas e das florestas na terra e nos seus territórios, a preservação das sementes crioulas e a adoção de práticas agroecológicas, em harmonia com a natureza. Além do mais, os representantes destes organismos da igreja católica, ressaltam os desafios que estes povos enfrentam para permanecia nos territórios, destacam como o agronegócio e os grandes projetos do capital, geram conflitos e sangue derramado na Amazônia. Nesta perspectiva, fazem apelo para haja o cuidado com a casa comum adotando atitudes concretas e para que as pessoas se inspirem no legado e opção do padre Ezequiel.
Por fim, na quarta parada, já no santuário e no palco, a romaria se concentrou no trabalho incansável do Pe. Ezequiel junto aos povos indígenas. Lideranças indígenas e membros do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) destacam a importância da luta pela defesa dos direitos e da cultura dos povos originários da Amazônia.
A partilha dos alimentos e a Santa Missa da Romaria
Após a caminhada, os participantes se reuniram no bosque e santuário para a partilha do almoço e descanso. Neste intervalo, ocorreram os testemunhos de fé dos romeiros e romeiras, as apresentações culturais e troca de diversos saberes. No início da tarde, começou a santa missa com a Pastoral da Juventude – PJ entregando a imagem da Nossa Senhora Aparecida para a Arquidiocese de Porto Velho. Em sintonia com os demais regionais do Brasil, a imagem está em peregrinação no regional Noroeste, que irá visitar todas as dioceses.
Dom Norberto durante a Santa Missa disse a seguinte frase, “Não deixe a profecia morrer, o pe. Ezequiel era profeta, a herança que ele deixou para nossa Diocese é que nós sejamos Comunidades Eclesiais de Bases proféticas, não deixe a profecia morrer. Aquilo que deve ser denunciado, deve ser denunciado, aquilo que deve ser anunciado, deve ser anunciado”. Dando continuidade à reflexão, após a Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 13,24-43, do evangelho, falou para os fiéis não desaminarem, participar das celebrações dominicais, se tornarem comunidades missionárias, nunca deixar os doentes e os idosos só, não deixar a profecia e a esperança morrer. Por fim, falou que o fermento de Deus está em cada um, portanto, que façamos crescer, como fez o Pe. Ezequiel Ramin.
A troca das sementes e mudas
Um momento especial e simbólico marcou o fechamento da romaria: o ato das trocas de sementes. Francisco de Assis (Chicão), coordenador do IPER, fala sobre este momento de incentivo aos romeiros/as que preservam e multiplicam as sementes crioulas e nativas, simbolizando o cuidado com a terra, a natureza e as futuras gerações.
“A troca de sementes e mudas deste ano foi resultado, principalmente, da dedicação das famílias camponesas e indígenas que tem se comprometido de selecionar, armazenar e cultivar as variedades de sementes crioulas e nativas colaborando com a preservação da biodiversidade na Amazônia. Esta é uma estratégia para defesa do território, que contribuem com equilíbrio ambiental frente as mudanças climáticas ocasionadas pelo modelo predatória do agronegócio e de luta pela segurança e soberania alimentar dos povos. A troca das sementes na romaria acontece todos os anos e vem sendo promovida pelo instituto e parceiros para o incentivo da multiplicação das práticas agroecológicas e para fortalecimento das ações comunitárias e sustentáveis dos grupos acompanhados, tendo como exemplo e inspiração, o Pe. Ezequiel ramin”. Assim, destacou Chicão.
A 8ª Romaria Pe. Ezequiel Ramin reafirmou o compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e solidária, inspirada pela espiritualidade e o legado deixado pelo Pe. Ezequiel Ramin. Que a “Semente Viva na Amazônia” continue a florescer nos corações dos que lutam por um mundo fraterno.