A nona Romaria de Pe. Ezequiel, que marca o 39º aniversário de seu martírio, ocorreu em Rondolândia, no interior do estado de Mato Grosso. O evento reuniu mais de 1.600 romeiras e romeiros de diversas partes dos estados de Rondônia e Mato Grosso, que marcharam desde a Comunidade Pe. Ezequiel Ramin até a Capelinha, localizada no local do martírio. Estiveram presentes pessoas de várias localidades, incluindo representantes da Diocese de Ji-Paraná, da Arquidiocese de Porto Velho, de várias congregações e de outros estados do país. Além disso, a romaria contou com visitantes de outros países.
Ao longo do percurso de aproximadamente 3 km, os romeiros e romeiras puderam observar a paisagem, terra e territórios cercados pelo agronegócio de madeireiros e pecuária. Esta é a região em que Pe. Ezequiel doou sua vida na luta contra as injustiças e desigualdades. Atualmente, as ações de cada pessoa presente continuam a luta iniciada por ele.
Na chegada à capela, houve um momento para descanso, almoço e partilhas. Durante a ocasião, representantes de vários organismos falaram sobre as ações que realizam, e houve a participação de cantadores populares e poetas. Além disso, ocorreram falas de representantes dos povos indígenas da região que conheceram Pe. Ezequiel e que fizeram e fazem parte das lutas por ele acolhidas na época.
Francisco de Assis, coordenador do Instituto Pe. Ezequiel Ramin (IPER), compartilhou a história da criação do Projeto Pe. Ezequiel Ramin, que por 28 anos fez parte da Diocese de Ji-Paraná. Posteriormente, foi criado um CNPJ próprio, mas o IPER continua como um organismo da Diocese de Ji-Paraná, realizando ações de formação e multiplicação. Com 37 anos de atuação, o IPER reafirma sua missão durante esta romaria com a realização da feira de trocas de saberes, sabores, cultura e cidadania.
Em seguida, a missa foi presidida por Dom Zenildo Luiz Pereira, Bispo de Borba, AM, e concelebrada pelo Bispo de Ji-Paraná, Dom Norberto Foerster. Essa celebração foi uma expressão de gratidão e compromisso, honrando o exemplo, o comprometimento e o sacrifício do Pe. Ezequiel Ramin.
Reflexão da Liturgia
Durante a celebração, o bispo Dom Zenildo compartilhou um relato profundo sobre o impacto do assassinato de Pe. Ezequiel Ramin. Ele lembrou o momento em que recebeu a notícia da morte do missionário comboniano, destacando que “as balas não conseguiram calar a voz, a esperança, os sonhos e a alegria de ser Igreja”.
Recordou de uma música que Pe. Ezequiel costumava cantar: “No caminho da minha roça/ ouvir anu cantar/ vamos unir/ vamos unir para nós juntos trabalhar.” Após sua morte, a letra foi modificada, mas a melodia permaneceu, refletindo seu legado: “A morte do Ezequiel/ me trouxe recordação/ da vida de Jesus Cristo/ falando em libertação.”
Na reflexão das liturgias, Dom Zenildo abordou diversos elementos fundamentais, como o papel do pastor e a luta contra a injustiça. Pe. Ezequiel viveu o mandamento do amor em sua radicalidade, exemplificando a famosa máxima de Tertuliano: “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos.”
A injustiça e a ganância tiraram a vida de Pe. Ezequiel, mas não conseguiram extinguir a missionariedade no coração da Igreja. É preciso se indignar, como Moisés e Jesus Cristo se indignaram, como Deus se indignou. Santo Agostinho nos ensina que a esperança tem duas filhas: a indignação, que nos ensina a não aceitar as coisas como estão e nos inspira a mudança, e a coragem, que nos impulsiona a agir e transformar.
Dom Zenildo também refletiu sobre o papel do pastor como promotor da paz, enfatizando que para se alcançar a paz é essencial ter justiça. As liturgias nos animam e nos preparam para a missão. Somos uma Igreja sinodal, que caminha junto, promovendo a proximidade entre os fiéis. A romaria é um espaço de partilha — das conversas, das angústias, do alimento e muito mais.
A coragem e o testemunho dos mártires são uma bênção para todos nós. Pe. Ezequiel Ramin, um jovem de apenas 32 anos, Servo de Deus, deu sua vida pelos povos da Amazônia e pela missão. Que levemos para casa a esperança e o compromisso desta Igreja missionária, que sabe rezar e lutar. Não podemos perder de vista o amor de Cristo, que nos envia para a missão. Continuemos lutando pela justiça e pela paz.
Pe. Ezequiel Ramin: Um Mártir do Reino
Pe. Ezequiel Ramin, missionário comboniano, Servo de Deus, amigo dos pobres e defensor dos pequenos, é considerado um mártir do Reino. Com apenas 32 anos, ele residia em Cacoal, Rondônia, quando foi brutalmente assassinado no dia 24 de julho de 1985, em Rondolândia, Mato Grosso, enquanto retornava de uma missão de paz.
Vários presbíteros e romeiros de muitas comunidades mantêm viva a memória do Pe. Ezequiel Ramin. Ao final da celebração, foi anunciada a décima romaria e a comemoração dos 40 anos do martírio do Pe. Ezequiel Ramin, marcada para o dia 27 de julho de 2025, em Rondolândia, na Diocese de Ji-Paraná. Ezequiel, presente!
Que a memória e o legado do Pe. Ezequiel Ramin continuem a nos inspirar na busca por justiça, solidariedade e defesa dos mais necessitados.