Segundo Dia do IV Acampamento da Juventude: Debate Sobre a Crise Ambiental na Amazônia

No segundo dia do IV Acampamento da Juventude, o tema principal de estudo, diálogo e debate da manhã foi a “Questão Ambiental com Foco na Amazônia.” Para entender a crise climática, a jovem Dandara, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e residente no Rio Grande do Sul, compartilhou o relato sobre as enchentes que atingiram o estado. Ela explicou que o desmatamento na região norte do Brasil e a expansão agrícola no RS estão ligados ao desequilíbrio climático provocado pelo agronegócio e pelo negacionismo climático. Dandara destacou que “o governo oferece auxílio financeiro apenas para quem teve suas casas atingidas por enchentes, excluindo muitos agricultores que perderam suas produções.” O MPA e outros movimentos que fazem parte da Via Campesina estão realizando a “Missão Sementes Solidárias” para apoiar as famílias camponesas afetadas. Além das perdas materiais, ela alertou que as enchentes contribuíram para o aumento do êxodo rural e dos problemas de saúde mental no campo. Ela destacou a importância das “Cozinhas Solidárias” e que têm sido fundamentais para a sobrevivência das pessoas que perderam tudo nas cidades.

 

Em seguida, com a colaboração de Camilo Santana, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os jovens refletiram sobre a crise ambiental. Ele enfatizou que “a crise ambiental nos afeta diariamente; as dificuldades na colheita, os deslizamentos e a falta de água são consequências dessa crise.” Uma questão que prejudica, principalmente, aos agricultores e as famílias em situação de vulnerabilidades social na cidade. Camilo destacou que, no capitalismo, o lucro e a transformação da natureza em mercadoria estão acima da satisfação das necessidades humanas. Para ele, “não existe capitalismo sem mercadoria; o sistema cria necessidades para se manter. A questão ambiental é uma questão de classes; não se resolve a crise ambiental sem resolver a fome, a violência e as desigualdades.” Ele concluiu dizendo que “não há como enfrentar a crise ambiental sem combater o sistema atual.”

Ocelío Muniz, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), também contribuiu ao falar sobre a crise hídrica em Rondônia. Ele disse: “Tudo o que está acontecendo nos rios é consequência das mudanças climáticas. A Agência Nacional de Águas prevê que, nos próximos 16 anos, a Amazônia perderá 40% de seus rios, o que levará a secas cada vez mais severas. O rio Madeira, por exemplo, está cada vez mais baixo. Sem ação governamental, as pessoas não terão o que comer e ficarão com sede. Em Rondônia, muitos municípios enfrentam racionamento de água. O sistema está destruindo a natureza, e a natureza está respondendo. A COP 30 será um espaço importante para discutir o que está acontecendo na Amazônia e propor soluções de longo prazo.” Destacou.

Para aprofundar o debate, os jovens foram divididos em grupos e responderam a perguntas como: “Como chegamos a essa situação?” e “O que entendemos por crise climática?” Os grupos discutiram a crise ambiental na região, destacando problemas como queimadas, uso de agrotóxicos, grilagem de terras, garimpo e contaminação do solo e da água, que afetam tanto o campo quanto a cidade. A juventude foi apontada como essencial para promover mudanças e foi incentivada a se engajar em práticas sustentáveis. Entre as soluções sugeridas estão o fortalecimento de movimentos sociais, a promoção da agroecologia, o combate às fake news e a criação de espaços de diálogo para organizar ações comunitárias.

Camilo concluiu dizendo: “Precisamos criar nossas próprias soluções, rompendo com o sistema atual. É preciso unir pessoas, fazer campanhas e ajudar a resolver os problemas do povo, mostrando que é possível viver de outras formas.”

Na parte da tarde, os jovens participaram de rodas de conversa sobre saúde, terra e território, relações sociais e educação no campo. Também participaram de oficinas práticas sobre comunicação, agroecologia, saúde integrativa popular comunitária, capoeira e música.