Troca só quem tem algo para oferecer. O Instituto Padre Ezequiel Ramin promoveu uma experiência de transferência de saberes e isto é como beber na fonte d’água que sacia a vida.
A feira e troca de sementes na Romaria do Padre Ezequiel Ramin, ocorrida no Bosque da Capela Ramin (localizada perto de onde o Pe. Ezequiel Ramin tombou), no município de Rondolândia, foi uma grande mística de resistência e esperança para as pessoas presentes. Um momento inesquecível. Ali foram apresentadas uma imensa variedade de sementes crioulas, leguminosas e essências florestais da Amazônia, que fazem parte da autonomia do/as agricultores/as, povos indígenas etc., ou seja, de todos que cultivam a terra nas diferentes regiões.
Quando se fazem trocas, doações, barganhas se multiplicam e propagam-se as variedades, permitindo ao outro a condição de ter acesso a estas espécies. Introduzidas na cultura e circulando em lugares diferentes, estas serão semeadas, cultivadas e consumidas de formas diversas, inclusive com novas receitas culinárias. Esta mística da semente em movimento traz, principalmente, a garantia das suas espécies, para que quando alguém, por acaso, vir a perder uma variedade podem encontrá-la em outras unidades de produção.
Na história das sementes, cada lugar adota um nome: “sementes crioulas”, “sementes da paixão”, “sementes do amor”, “sementes da esperança”. As sementes são entendidas como heranças a serem transferidas de geração para geração, entre os camponeses, indígenas, ribeirinhos, quilombolas e os extrativistas. Nestes momentos sinto que as sementes são a segurança alimentar e a sua subsistência na luta do campo e cidade.
Há um número grande de pessoas com disposição de trazer o cuidado das sementes para o outro e há tantos querendo receber. Umas das coisas que me chamou a atenção é haver muitas pessoas de diversas idades – algumas mais velhas e a maiorias jovens, sendo o maior número de mulheres. Outro elemento importante foi o momento em que o Bispo Dom Norberto convidou todas/os para fazerem juntos a benção na semente, que passou a ser um dos elementos principal para todos/as romeiros/as. Outro momento importante foi quando quem levava as sementes e as mudas para casa dizia: “vou multiplicar e no ano que vem vou trazer para romaria”. Ocorreu grande fluxo de pessoas na barraca das sementes. As pessoas ficavam um bom tempo olhando as sementes, tirando dúvidas e querendo saber mais sobre sua origem.
A importância desta feira e troca das sementes foi possibilitar para as pessoas a oportunidades da oferenda e da multiplicação. A caminhada dos romeiros fortaleceu a espiritualidade, o desejo de continuar a luta por uma soberania alimentar, além de unificar o campo e cidade como a Casa Comum.
Francisco de Assis Costa-CHICÃO